Caso Wallace (14 de outubro de 2016)

Fonte: Los Angeles Press
Por Guadalupe Lizarraga 
14 de outubro de 2016
Tradução: Vítor Galafasse (originalmente publicado em espanhol 31 de maio de 2014)

Isabel Miranda logro notoriedad Política con el supuesto secuestro homicidio y su hijo.
Isabel Miranda logro notoriedad Política con el supuesto secuestro homicidio y su hijo.

Hugo Alberto Wallace e as evidências de que o mesmo ainda está vivo (primeira parte)

Há nove anos do suposto sequestro e homicídio de Hugo Alberto Wallace Miranda, há cada vez mais evidências de que o mesmo encontra-se vivo, de acordo com as Investigações da Asociación Canadiense sobre el Derecho y la Verdad, com sede em Montreal. O caso Wallace, como vem sendo difundido no México desde 11 de julho de 2005, tem mantido seis pessoas encarceradas por anos, sob regime de tortura. A mãe da suposta vítima, Isabel Miranda Wallace, que alcançou notoriedade política e poder econômico a esse caso, tem sido acusada por diversos delitos como: perjúrio, corrupção à funcionários públicos para obter e manipular provas, ameaças de morte a acusados, familiares e amigos dos mesmos, e ainda há a acusação de ser a responsável por ter mandado torturar os seis acusados pelo crime.

O presidente da associação canadense, David Bertet, deu ao Los Angeles Press cópias de mentomentos oficiais em nome de Hugo Alberto Miranda Torres, como evidências de que o mesmo ainda está vivo e mantêm uma dupla identidade, assim como sua mãe. Trata-se de documentos oficiais expedidos anos mais tarde da data do suposto homicídio, assim como uma meticulosa análise comparativa de 29 páginas, sobre as declarações criminais sob tortura as quais sentenciaram os acusados. O documento ainda apresenta as inconsistências lógicas as evidências apresentadas por Isabel Miranda de Wallace ao longo do processo judicial, até a obtenção de um atestado de óbito, apesar de não haver o corpo da suposta vítima. As causas da morte foram deduzidas através de uma autópsia fictícia assinada pela médica legista Blanca Olimpia Patricia Crespo Arellano, de cédula 1878723. A data de expedição do atestado de óbito foi emitida através do registro 879/13 de número  130223472, pela juíza Silvia Araceli Garcia Lara do Décimo Primeiro Juizado da Família, enquanto a juíza do Registro Civil do Distrito Federal, Marsella Lizeth de la Torre Martinez, atestou e selou o documento dando-lhe legalidade a cópia reproduzida do original

Em 12 de maio de 2014 foi expedido também uma certidão de nascimento no nome de Hugo Alberto Miranda Torres, nascido em 12 de outubro de 1969, no Distrito Federal, e registrado em 15 de janeiro de 1970. O pai biológico aperece no documento como Jacinto Miranda Jaimez, um militar aposentado residente da Baixa Califórnia e que não reconheceu o sequestro de seu filho, mas apenas o seu “desaparecimento”. A mãe, Isabel Torres Romero, seis anos depois do nascimento de seu filho Hugo Alberto, já em um novo casamento, voltou a registrá-lo com o sobrenome de seu segundo marido, Wallace. Porém, Isabel decidiu permanecer com o sobrenome de seu primeiro marido, Miranda. Devido a isso, a segunda identidade de seu filho foi registrada com os sobrenomes Wallace Miranda, e o dela, Miranda de Wallace. Uma terceira modificação de seu nome em documentos oficiais é o de Maria Isabel Miranda Torres, os mesmos sobrenomes do pai biológico os quais seu filho foi registrado.

pic-2-acta-hugo-alberto-miranda-torres-1-285x450

Certidão de nascimento como Hugo Alberto Wallace Miranda.
Certidão de nascimento como Hugo Alberto Wallace Miranda.

Outro documento que chamou a atenção dos ativistas franco- canadenses, foi o registro de Hugo Alberto Miranda Torres na Cédula Única de Registro de População (Cédula Única del Registro de Población – CURP) em  24 de fevereiro de 2010. Um documento que só o interessado pode obter no país e o qual se obteve com a certidão de nascimento como documento comprovatório. 

pic-4-acta-hugo-alberto-miranda-torres-2-450x254

David Bertet apontou que vem observando os passos de Isabel Miranda de Wallace desde a participação da associação na defesa de Florence Cassez, e agora representa a defesa dos direitos humanos de alguns acusados no caso Wallace, onde se destaca o caso de Brenda Quevedo Cruz, presa há oito anos e torturada duas vezes na cadeia de “Santiaguito” em Almoloya de Juaréz, Estado do México, e nas Ilhas Marias, Nayarit, onde foi transferida de maneira ilegal, uma vez que para essa cadeia são enviados somente condenados perigosos, sendo que Quevedo Cruz ainda aguarda julgamento.

“Por um caso de um suposto sequestro que de fato nunca aconteceu”, diz Bertet a Los Angeles Press referente ao caso de Brenda Quevedo. “Isabel Miranda de Wallace escolheu alguns amigos de Hugo para culpá-los pelo suposto desaparecimento de seu filho. Jacobo Tagle era amigo de Hugo, e Cesar Freyre pelo menos o conhecia”, afirma o ativista do Canadá, lugar onde esta localizada a sede da organização não governamental responsável pela investigação de casos de presos injustamente no México.

O documento de análise sobre o caso Wallace foi enviado pela organização à Suprema Corte de Justiça da Nação (Suprema Corte de Justicia de la Nación) com base a causa penal 35/2006-II contra Brenda Quevedo Cruz, depois que a defesa apresentou as evidências diante o Juzgado Décimosexto de Distrito de Procesos Penales Federales, em 14 de maio, data em que encerrava o prazo para apresentar provas em sua defesa. Nesse documento são apontadas as inconsistências nas seis supostas evidências apresentadas por Isabel Miranda Wallace, a qual diz que “pretende estabelecer legalmente como um feito inquestionável a morte de seu filho Hugo Alberto Wallace Miranda”. Também são analisados minuciosamente no documento, as declarações de acusações referentes a Juana Hilda González Lomeli, Jacobo Tagle Doblín y César Freyre Morales.

A imagem seguinte contêm a lista das evidências, cuja Isabel Miranda Wallace sustenta como inquestionáveis, refente ao caso do suposto homicídio de seu Filho.

pic-5-evidenciaswallace1-450x217 

A respeito aos pontos ‘a’ e ‘b’, mencionados por Isabel como evidências, a organização canadense mostrou que o cabelo e a licença de motorista vencida, ambos elementos pertencentes a Hugo Alberto Wallace Miranda, foram encontrados no apartamento de Juana Hilda Lomelí (lugar do suposto homicídio) sete meses depois da data em que supostamente Wallace fora assasinado com golpes mortais e o corpo desemembrado com uma serra elétrica, segundo as próprias declarações da mãe. O mandato de busca do apartamento foi realizado no início de fevereiro de 2006, mas o mesmo já havia sido alugado por outra pessoa de nome Rodrigo Oswaldo de Alba, desde o dia primeiro de outubro de 2005.

Também foi relatado pela associação canadense, que o apartamento onde ocorreu o suposto homicídio, localizado em Avenida Perugino, nº 6, permaneceu sem vigilia nas duas semanas seguintes do suposto crime. Isso foi entre os dias 12 e 26 de julho de 2005, data em que os investigadores federais, entraram no local e não deixaram nenhuma restrição ou controle de acesso ao local. Apenas informavam que ali havia sido cena de um crime, sem maiores detalhes. Esse feito foi confirmado segundo a declaração da administradora do edifício, Jaqueline Isabel Gálvan López, em 25 de maio de 2006, que constatou que depois de sete meses do suposto crime, o agente do Ministério Público, Braulio Robles Zuñiga, pessoa de confiança de Isabel Miranda, de acordo com sua declaração, tomou a decisão de colocar um selo de restrição na porta do apartamento.

Isabel Miranda utilizou dos detalhes do suposto crime na propriedade, como o suposto fato de seu filho ter sido serrado por uma serra elétrica comprada durante a madrugada no Wal Mart de Toreo, para apresentar como evidência a hipótese da perícia criminalistíca de que “sim, haveria sido possível a realização do esquartejamento do corpo no banheiro da propriedade, conforme letra ‘d’ na imagem”. Uma fonte confidencial entrevistada pela Los Angeles Press, destacou porém a grande recusa de Isabel Miranda de abrir a tubulação do banheiro e constantar através da perícia a existência de restos sangue e gordura correspondentes a seu filho.

O entrevistado ainda recapitulou e questionou a teoria da senhora Wallace: “Supostamente César Freyre era o chefe da quadrilha, e contratou os irmãos Castillo para cortar o cadáver com a serra elétrica. Se os irmãos Castillo já chegaram e cortaram o cadáver, então para onde foi todo o sangue, os ossos, a gordura, se no banheiro de Perugino não encontraram mais do que algumas gotas de sangue?”, enfatizou.

“O próximo ponto – continua o entrevistado – é que se os irmãos Castillo esquartejaram o cadáver, porque eles deixariam o corpo cortado a  César Freyre (suposto chefe da quadrilha), para que o mesmo embalasse, colocasse as partes no carro e levasse o corpo embora do lugar?. Se os Castillos são os executores do crime, o chefe espera que ao menos eles embalem e se livrem do corpo. Se foram contratados para realizar o crime, seria um absurdo não terem feito o serviço completo”

 

O local do crime, alugado depois de alguns dias 

Na análise da organização canadense, também se destacou que os novos inquilinos do apartamento em questão, Rodrigo Oswaldo de Alba Martinez e sua esposa, desapareceram repentinamente depois que os agentes da SIEDO realizaram o mandato de busca em 2006. Para a organização, Rodrigo havia ligado para a administradora do edifício para informar que deixaria a propriedade, mas não poderia entregar as chaves em mãos.  Segundo a declaração da administradora, isso ocorreu três meses depois da realização do mandato de busca.

O presidente da organização, David Bertet, enfatizou que “não é somente estranho mas também uma violação, que tenha sido permitido que a propriedade fosse alugada por quatro meses a outra pessoa, depois da realização do suposto crime”

Outros pontos relevantes segundo a análise da Asociación Canadiense por el Derecho y la Verdad, é que seja pouco provável que tenham encontrado fios de cabelo de Hugo Alberto Wallace, “considerando que ele havia lutado e recebido golpes durante o sequestro”, afirma o documento. A declaração também cita que a administradora do edifício afirmou ainda que o tapete do apartamento onde supostamente ocorreu o crime, não foi trocado até sete meses depois do episódio.

 

Dois pedidos de resgate idênticos

Segundo a fonte confidencial, a outra série de contradições sobre o caso Wallace que são evidentes para as autoridades, e que mesmo assim não foi feito nada. O entrevistado comentou que as declarações do sequestro na Procuraduría General de Justicia de Distrito Federal (PGJDF), contradizem  com  as  declarações  da  Procuraduría  General  de  la  República  (PGR), e menciona que existem dois pedidos de resgate idênticos, um no registro da PGJDF e outra em registro da PGR.

A fonte também apontou que a foto onde aparece Hugo Alberto Wallace com o torso nu, algemado e com os olhos vendados, que circulou como evidência de que o mesmo estivesse morto, foi analisada pelo médico forense Benito Juarez, do Distrito Federal. Segundo o mesmo, “Se essa pessoa estivesse morta, o pescoço apresentaria uma rigidez e o pescoço está solto.  Ele pode estar drogado, desmaiado, mas não está morto” disse o médico.

 

Foto de Hugo Alberto Wallace Miranda apresentou os mortos. foto cedida.
Foto de Hugo Alberto Wallace Miranda apresentou os mortos. foto cedida.
Isabel miranda mente a corte

Isabel Miranda, comenteu perjúrio contra a Corte de Chicago, quando foi chamada como testemunha no caso de Brenda Quevedo Cruz, a qual enfrentava o julgamento para deportação enquanto se refugiava nos Estados Unidos. Segundo informações, Isabel Miranda mentiu sob juramento, sobre os antecedentes criminais de seu filho.

Quevedo foi entregue ao Servicio de Alguaciles dos Estados Unidos em Chicago em 10 de março de 2008, em cumprimento a uma ordem de prisão emitida em 5 de março de 2008.

Durante o julgamento, foram pedidos registros de antecedentes criminais, tanto de Brenda Quevedo como de Hugo Alberto Wallace Miranda. A mãe de Wallace afirmou a corte que seu filho não tinha antecedentes criminais e apresentou um registro emitido pelo Governo do Distrito Federal. Porém seu filho havia sido processado em 2001 por contrabando, embora existam testemunhas e evidências que comprovam que o mesmo era traficante de drogas no país e que o houve omissão desse fato em seu registro de antecedentes criminais sendo registrado apenas o termo “contrabando”.

pic-7-ficha-hugo-450x286 

Testemunho da namorada de hugo 

Vanessa Bárcenas Diaz, ex namorada de Hugo Alberto Wallace, deu  seu testemunho em 15 de novembro de 2005 para o Ministério Público. Nele, explicou como iniciou a relação com Wallace, sua gravidez não concluída, a casa onde vivia Wallace (em contradição com o que foi dito por Isabel Miranda, que afirma que o filho vivia com a mesma no momento do ocorrido), e as confissões feitas por Hugo de que o procuravam por tráfico de drogas.

“Quero deixar claro, que quando era namorada de Hugo Alberto, o mesmo comentou que havia sofrido uma tentativa de sequestro, sem dar-me mais detalhes. Só me recomendou para que tomasse cuidado, porque através de mim o poderiam atingir. Inclusive por esse motivo que a caminhonete Cheroki blindada foi comprada. Também comentou que em certa ocasião o procuravam para o prender, acusando-o de narcotráfico, dizendo que era devido a uma roupa que o enviaram, sem saber de onde, e as pessoas que a mandaram teriam feito algo errado. Hugo Alberto acreditava ser algo relacionado a narcotráfico e que por esse motivo esteve fugindo por diversos estados do país. Não me disse mais detalhes sobre isso, nem eu mesma perguntei, mas me disse que havia saído de tudo isso e que havia feito por mim.

pic-8-periodico-el-grafico-2-jun-06-450x395

Bárcenas Diaz também reconheceu a voz de Hugo Alberto em uma mensagem gravada em um celular em novembro de 2005, quatro meses depois de seu suposto assassinato.

“Escutei o conteúdo de uma fita, em que se escuta a voz de uma pessoa do sexo masculino que dizia: E ae cara? Olha, eu estou em uma merda terrível. Eu sei, eu te decepcionei mas dane-se cara. Estou aqui cara…Ei cara, olha para mim, estou ferrado. Eu não ligo, não me importo. Quer saber cara, você sabe quem me ferrou” palavras que levam a crer que são duas pessoas conversando, mesmo não sendo possível escutar a voz do interlocutor, mas nota- se a existência do mesmo. Depois de escutar atentamente a gravação algumas vezes, digo que reconheço plenamente e sem dúvidas que a voz gravada é de Hugo Alberto Wallace Miranda, já que o tempo que durou a relação, o escutei muitas vezes bêbado utilizando essas mesmas palavras. Além do mais, é o seu tom de voz e posso assegurar que essa é a voz dele; Hugo Wallace era acostumado a falar em dois telefones ao mesmo tempo. Era acostumado a ter dois telefones celulares…”

 

A tortura em nome de isabel miranda de wallace 

“O governo de Peña Nieto e a PGR já sabem das torturas aos acusados pelo caso Wallace, e de qualquer jeito nada acontece porque o secretário do governo tem algum envolvimento”, disse a fonte confidencial a Los Ángeles Press.

Brenda Quevedo foi bem explícita e firme ao dizer que seus torturadores iam a mando de Isabel Miranda, onde em um dos casos de tortura a mesma reconheceu a voz e silhueta de Oswaldo Jiménez Juárez, investigador do Ministério Público. Jacobo Tagle também o reconheceu pela voz e alegou em depoimento ao juiz que o mesmo era o seu torturador.

A Asociación Canadiense sobre el Derecho y la Verdad, identificou uma série de contradições e discrepâncias entre as versões dos acusados com as quais os mesmos são incriminados. Isso inclui a suposta confissão de Jacobo Tagle Dobín em vídeo, com uma grande quantidade de cortes de edição que permitem questionamentos quanto a veracidade do material.

No caso de Brenda Quevedo Cruz, que foi torturada duas vezes e estuprada por não aceitar as acusações sofridas, é mostrado como evidência   o Protocolo de Istambul apresentado pela Comissão Nacional de Direitos Humano. O documento de onze página foi elaborado com a declaração de uma médica cirúrgica com especialidade em Psiquiatria e certificada pelo Conselho Mexicano de Psiquiatria, e a qual mantemos o nome em sigílo por motivos de segurança.

pic-9-prot-estambul-brenda-1-352x450

A respeito das avaliações psiquiatricas de Quevedo Cruz, a médica aponta que Brenda “esteve exposta a um evento traumático e onde experimentou eventos resultantes em ameaças de morte, ou ameaças a integridade física dela ou de outros.”

“Brenda diz que sentiu que iria morrer quando colocaram uma sacola de plástico em sua cabeça e a encheram de água. Também sentiu que sua família estava em perigo. Diante disso, disse que sua resposta foi de terror, assim como a frieza e desamparos absolutos.”

Ao londo da declaração, são abordados cada um dos sintomas do desequilíbrio emocional devido a tortura sofrida por Brenda Quevedo e de  como associa seu entorno com a dor física e emocional que a mesma vem sofrendo.

No final do documento o qual analisa o caso Wallace, a organização canadense recomendou a Suprema Corte de Justicia de la Nación, atrair o  caso  de  Brenda  Quevedo  Cruz   “pela  necessidade  absoluta  de  delimitar o papel e o âmbito de figuras públicas como Isabel Miranda Wallace”, a quem foi identificada como acusadora pública “o que representa um perigo maior para o sistema de administração de justiça do México”.